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8 de dezembro de 2010

O GALO


O Galo




Rubem Alves


Era uma vez um galo que acordava bem cedo todas as manhãs e dizia para a bicharada do galinheiro:
_ Vou cantar para fazer o sol nascer...

Ato contínuo subia até o alto do telhado, estufava o peito, olhava para o horizonte e ordenava, definitivo:

_ Co-co-ri-có...

E ficava esperando.

Dali a pouco a bola vermelha começava a aparecer até que se mostrava toda, acima das montanhas, iluminando tudo.

O galo se voltava, orgulhoso, para os bichos, e dizia:

_ Eu não disse?

E todos ficavam boquiabertos e respeitosos ante poder tão extraordinário conferido ao galo: cantar pra fazer o sol nascer. Ninguém ousava duvidar, porque tinha sido sempre assim. Também o galo pai cantava pra fazer o sol nascer, e também o galo avô...

Aconteceu, entretanto, que o galo certo dia perdeu a hora (fora dormir muito tarde), e quando acordou o sol já estava lá, brilhando no meio do céu, sem necessidade de canto de galo algum que o fizesse nascer. E desde este dia em diante o galo foi acometido de uma incurável tristeza, por saber que o sol não nascia pelo encanto do seu canto, e os bichos foram acometidos de uma maravilhosa alegria por saberem que não precisavam mais do galo pra haver outro dia...


COMENTÁRIO

O texto de Rubem Alves apresenta um personagem que se considerava importante, o galo. Todos os outros animais o consideravam muito poderoso e o “respeitavam”, pois o galo detinha um poder exclusivo. Com este poder o galo controlava o comportamento e mantinha o comando perene. O galo recebeu um poder outorgado, tanto seu pai como seu avô tiveram o mesmo poder. Acreditou no que ouviu dizer e nunca investigou para ver se era verdade. No dia em que dormiu e perdeu a hora, ficou surpreso porque o sol não necessitou do seu canto. Sentiu-se inútil, entristeceu. O mesmo não aconteceu com os outros animais do galinheiro. Quando notaram que o sol era um fenômeno natural, e que não precisam do cantar do galo, sentiram-se livres e perderam a admiração que tinham por ele. O líder, todo poderoso não era nada poderoso. Ele havia se apoderado de um poder que não era seu (fazer o sol nascer), como as pessoas que roubam idéias dos outros ou que ocupam cargos públicos como se fossem ocupar essa tarefa para sempre. Muitas vezes agimos como o galo, queremos comandar as pessoas, queremos que façam nossas vontades, desejamos ser servidos, que nos rendam homenagem, quando essas pessoas se negam ficamos bravos ou tristes, nos decepcionamos com elas. O galo é apena um símbolo. Ele representa a pessoa egocêntrica, a mentirosa, que faz de tudo para ter o mundo girando a seus pés.





PENSAMENTO

Quando os homens pensam que são como deuses, geralmente são muito menos que homens. D.H. LAWRENCE – escritor inglês, (1742 – 1930)



SUGESTÕES DE ATIVIDADES:
1- Adaptar o texto para teatro e fazer a apresentação.
2- Desenhar o texto em quadrinhos e expôr as imagens.